Artigo: A epidemia do Crack no Brasil

O surgimento do uso do crack em 1980 nos Estados Unidos através da mistura da cocaína formando a pasta para atender a necessidade do mercado de usuários que não tinham poder aquisitivo para comprar a cocaína pura mostrou-se devastadador para a saúde dos usuários e pela conexão com o aumento da criminalidade, aumentou o índice da criminalidade relacionada ao tráfico.

A partir de 2000, a disseminação da utilização pelas camadas mais pobres fez com que houvesse o comportamento de verdadeira epidemia e no Brasil avançou rapidamente pelos interiores mais distantes, havendo usuários em quase todos os munícipios brasileiros.

O último relatório da ONU sobre drogas aponta que as drogas sintéticas, principalmente as anfetaminas e demais substâncias estimulantes do Sistema Nervoso Central juntamente com o crack, ultrapassaram a maconha e a cocaína em utilização no mundo.

A produção e a apreensão da maconha teve redução, inclusive o percentual de usuários da maconha estabilizou-se em menos de 2% enquanto cresceu entre os mais jovens o uso do crack havendo estudos que demonstram que cerca de 10% de jovens já fizeram uso desta.

O crack apresenta uma “fissura” que dura 20 minutos onde fruto da inundação do cérebro pela dopamina vem a sensação de euforia, disposição extrema e elevação da auto-estima após o que advém cefaleia intensa e prostração. A partir de poucas doses a pessoa fica viciada e exposta aos mesmos riscos da cocaína em relação ao aparelho cardiovascular (arritmia grave e parada cárdio-respiratória em over dose) quanto a riscos de sequela neurológica e demenciais.

O Ministério da Saúde do Brasil estima em 1 milhão e duzentos mil usuários. Não existe um protocolo estabelecido para o tratamento específico desse vício, vem a ser o mesmo proposto aos demais: internação curta por 5 dias, encaminhamento ao CAPS, acolhimento psiquiátrico, psicológico e social.

É de conhecimento de todos que não existe um antídoto ou medicação específica contra o vício sendo pois o usuário necessitado de rede interdisciplinar para sua assistência. Por outro lado a ONU tem proposto que seja aplicada política de redução de danos, inclusive subscrito pelo Brasil e constante da política nacional anti-drogas. A realização desse seminário tem vários objetivos:

1 – Entendemos que através da resposta a várias perguntas será possível desenhar uma idéia do todo na busca de alguns consensos e para isso convidamos eminentes autoridades e especialistas para nos esclarecer e para muito além buscarmos efetivar ações comuns a gestores e sociedade civil:

Qual o número de leitos existentes e quais os necessários para o atendimento aos usuários?
Existem CAPS suficientes? Quantos são necessários? Os recursos humanos estão capacitados?
As equipes multidisciplinares estão compostas para o devido acolhimento?
Como se dará o acesso ao lazer, esportes e terapia ocupacional aos necessitados?
Quais as estratégias para combater a corrupção policial que fornece segurança ao tráfico?
A redução de danos será utilizada como ferramenta para combate ao crack?
Qual o modo da família, a escola e a mídia atuarem no combate a essa mazela com eficiência?

2 – O CFM em conjunto com a Fenam e AMB pretendem realizar três seminários em 2011: março em Florianópolis e em Fortaleza, e abril em São Paulo, para discussão de protocolo de tratamento, redução de danos e criação de estratégia de capacitação de profissionais de saúde, particularmente aos médicos e estudantes de medicina e para tal fomentar pesquisas acadêmicas relativas ao tema e solicitamos a cada Conselho que indique um conselheiro para compor uma comissão nacional para se debruçar sobres as ações nessa temática.

Agradecendo a presença e participação de todos desejamos um profícuo debate.

RICARDO PAIVA
Coordenação Geral

Da Assessoria de Comunicação do Cremepe

 

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