Cientistas criam método que identifica maior risco para dengue grave

Estudo publicado na ‘Nature’ nesta quarta-feira (23) chegou à quantidade de anticorpos que um indivíduo precisa para não desenvolver a doença. Achado pode ajudar em estratégias de prevenção.

quipe de cientistas do Instituto Pasteur conseguiu estabelecer quais indivíduos estão sob maior risco de desenvolver a dengue hemorrágica, a forma mais grave da doença. A partir de um experimento na Tailândia, eles identificaram a quantidade de anticorpos que um indivíduo precisa ter para não desenvolver a condição. O risco é então estabelecido quando o exame de sangue identifica células de defesa com número de anticorpo abaixo desse limiar.

Os anticorpos no sangue são medidos por um teste que chama “títulos de anticorpos” e os parâmetros encontrados pelos pesquisadores foram os seguintes: indivíduos com teste menor que a proporção “1:40” tem 7,4 vezes mais chance de desenvolver dengue hemorrágica que um indivíduo com anticorpo abaixo desse parâmetro.

O achado, publicado na revista “Nature” nesta quarta-feira (23), pode ser utilizado para um mapeamento dos indivíduos mais vulneráveis à doença. Com isso, governos podem adotar políticas públicas de prevenção mais focadas nesses grupos.

Cientistas do Instituto Pasteur chegaram a essa conclusão através de uma parceria com pesquisadores nos Estados Unidos. Juntos, eles selecionaram 3.451 crianças de uma região rural no norte da Tailândia com altas taxas de circulação da dengue. Elas foram monitoradas durante 5 anos, com coleta de sangue a cada 90 dias. Também foram feitas consultas para verificar se elas apresentavam sintomas da doença.

“A análise identificou o nível de anticorpos que coloca um determinado indivíduo dentro da janela de risco para a dengue”, explica o autor Henrik Salje, estatístico e epidemiologista do Instituto Pasteur, em nota.

O estudo aponta que depois de um ano da infecção os afetados chegam a uma quantidade de anticorpos que os coloca dentro ou fora do risco para uma segunda infecção. Um ponto importante da medicação de anticorpo é que, atualmente, há muitas casos de dengue sem sintomas. Da amostra, pesquisadores identificaram que 65% das infecções são subclínicas.

A partir dos dados coletados nesse trabalho, os cientistas criaram um modelo estatístico capaz de associar os anticorpos observados no sangue das crianças com a possibilidade de complicações mais graves para a dengue. Na prática, o experimento permitiu que um parâmetro de anticorpos fosse criado (menor que “1:40”, maior a chance de infecção).

Isso é particularmente importante porque formas mais graves da dengue surgem a partir de uma segunda infecção pelo vírus. Indivíduos que desenvolvem a dengue hemorrágica, por exemplo, têm anticorpos da primeira infecção, mas eles são insuficientes para combater a segunda.

“Quando indivíduos são infectados uma segunda vez , seus níveis de anticorpos aumentam, mas não o suficiente para protegê-los”, diz Henrik Salje.
“É como se os anticorpos se agarrassem ao vírus, mas fossem incapazes de neutralizá-lo.”

A especificidade da dengue

O vírus da dengue tem quatro formas diferentes, conhecidas como sorotipos. Os indivíduos correm o risco de serem infectados pelos quatro tipos do vírus, como se estivessem pegando quatro doenças diferentes.

Isso faz com que a dengue seja uma doença específica, diferente de outras infecciosas, como o sarampo, por exemplo. Funciona da seguinte maneira: se você pega dengue uma vez, você só fica protegido para aquele tipo de vírus específico — e não aos outros.

“Se você está infectado com sarampo, desenvolve imunidade vitalícia”, diz Henrik Salje.
“Mas a dengue é diferente. Aqueles infectados pela segunda vez por outra forma do vírus têm maior probabilidade de desenvolver uma forma grave da doença “.
Soma-se a isso o fato de que quando se é infectado por um tipo de vírus, e depois a pessoa é infectada por outro tipo, ela tem mais chance de desenvolver uma forma grave de dengue, a hemorrágica.

Nessa forma de dengue, além da febre e de sintomas similares à gripe, há sangramento pelo nariz, boca e gengiva. De forma geral, há sangramentos internos em uma espécie de colapso da circulação que pode levar à morte.

Fonte: G1

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