União é a saída para lidar com Alzheimer

Treze anos atrás, Cleonice Albuquerque começou a sentir irritação, tristeza e cansaço o tempo todo. Ao procurar um médico, viu que não eram sintomas de uma doença que ela desenvolvera, mas manifestações do estresse causado pela enfermidade que roubava a autonomia do marido: o mal de Alzheimer. Cuidadora em tempo integral, ela precisou dar atenção à própria saúde para garantir conforto ao companheiro. Por isso, passou a frequentar um grupo de apoio com pessoas que vivenciavam o dilema, o que lhe redobrou o ânimo. Histórias como a dessa recifense viraram tema de dissertação de mestrado defendida este mês no Departamento de Antropologia da UFPE. O mestre Demócrito da Silva concluiu que familiares de doentes de Alzheimer que buscam esses grupos oferecem mais qualidade de vida para o paciente.

Demócrito criou um conceito, o de pós-velhice. É aquela fase da vida em que o idoso perde a independência para realizar tarefas básicas, de levar um garfo à boca a caminhar. “Geralmente, há dependência psicológica, motora e, às vezes, financeira”, explica. Quem tem Alzheimer passa por isso. O peso que essa condição acarreta para um familiar é difícil de carregar quando se está só. Por isso, os grupos de troca de informação fazem diferença.

“O primeiro contato com o grupo é um pedido de socorro. Os cuidadores chegam cansados, reclamando de abandono dos outros familiares. Ao compartilhar experiências, a angústia vai desaparecendo, a ponto de alguns continuarem a frequentar os encontros mesmo após o falecimento do parente. Geralmente, esse papel recai sobre uma mulher, seja filha, irmã ou esposa”, detalha Demócrito. Cleonice seguiu esse roteiro tão à risca que, hoje, sete anos após perder o marido, é coordenadora dos sete grupos de apoio da Associação Brasileira de Alzheimer no Estado (Abraz-PE).

Fonte: JC

Cleonice conta que a maioria dos novos membros acredita ser incapaz de lidar com o parente. “Aconselho que não desistam, não coloquem o doente num abrigo. Porque ele sempre terá momentos de lucidez e precisa de alguém em quem confie”, orienta, com a experiência de quem cuidou do companheiro por mais de uma década.

Ao ingressar na Abraz-PE, o novato é encaminhado para psicólogo e assistente social. Profissionais imprescindíveis nesse ambiente, defende o neurologista do Hospital Oswaldo Cruz Paulo Brito, especialista em Alzheimer. “Mas o primeiro passo para o cuidador sempre é aceitar que o paciente já não é a mesma pessoa”, reforça. A costureira Maristela Soares, 63 anos, começou a enfrentar esse processo com a mãe, de 84, em março. “Ainda estou descobrindo muitas coisas, mas me sinto segura porque os colegas do grupo são solidários. Estou com forças renovadas para cuidar dela.”

A Abraz-PE atende pelo (81) 3272-0263, de segunda a sexta, entre as 8h e as 12h.

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