Na semana passada, assisti à quarta edição do “2023 Century Summit”, iniciativa da Universidade Stanford para discutir os caminhos que levam a uma longevidade ativa. Está cada vez mais claro para os especialistas que essa é uma construção que acompanha a trajetória do indivíduo, estando diretamente relacionada a políticas públicas que combatam a desigualdade social – garantindo segurança financeira para os idosos – e a fortes conexões sociais. O palestrante que abriu o evento foi Chip Conley, criador da Academia dos Novos Velhos (Modern Elder Academy), dedicada a repensar o envelhecimento. Em janeiro de 2024, lançará mais um livro candidato a best-seller: “Learning to love midlife” (“Aprendendo a amar a meia-idade”). Para ele, nessa fase da vida, as pessoas deveriam ter o mesmo nível de suporte dedicado aos adolescentes:
“Também enfrentamos mudanças hormonais e grandes questionamentos sobre o que fazemos e nosso lugar no mundo. Acho que, em vez de controlar quantas calorias consumimos num dia, deveríamos nos perguntar coisas como: ‘quando foi que tive uma conversa longa com meus amigos?’ ou ‘qual foi a última vez em que pude apreciar um pôr-do-sol?’. Amigos não são apenas algo legal de se ter. Na verdade, são nosso seguro emocional contra a solidão e a depressão”.
Conley propõe uma cruzada mundial: um movimento para que o envelhecimento seja valorizado. Na sua opinião, a mudança de chave pode aumentar em até 7.5 anos a expectativa de vida: “Os governos lançam campanhas contra o fumo ou em prol do exercício, mas nunca vi nada que estimulasse as pessoas a ter uma visão positiva da velhice”.
Sua aposta é ampliar o que chama de “consciência social”, isto é, mostrar às pessoas a importância do convívio e interação não somente com outros indivíduos da mesma faixa etária, mas também entre gerações: “penso que as comunidades para aposentados terão que ser reformuladas, para se tornarem intergeracionais”.
Na sequência, a discussão foi sobre o desafio de garantir a segurança financeira dos idosos. Diante da necessidade de aprender a poupar desde cedo, Tobias Read, secretário de Fazenda do Oregon, anunciou que os alunos daquele estado norte-americano passarão a ter aulas de educação financeira que serão obrigatórias para a conclusão do Ensino Médio. No entanto, como completou Anne Ackerley, diretora do fundo de pensões BlackRock e considerada uma das cem mulheres mais influentes na área de finanças, não há uma “bala de prata” para dar um jeito na situação:
É preciso que as pessoas tenham acesso à educação financeira e entendam como poupar e fugir de armadilhas e fraudes, mas há questões que devem ser endereçadas com urgência. Uma delas é reconhecer que o cuidador familiar desempenha um trabalho da maior relevância. Precisa ser remunerado para poder envelhecer com dignidade”.