Os 71 anos do Hospital da Mirueira

A dona de casa Maria Luiza da Silva, tem 62 anos. Desses, dez ela morou no Hospital Geral da Mirueira. Sem saber se seu nome é escrito com a letra “s” ou “z”, pois nunca aprendeu a ler ou escrever, ela nasceu na comunidade de Tabuleiro do Martin, em Maceió. Trabalhou no campo, colhendo e plantando cana-de-açúcar, antes de ficar doente. Só descobriu que tinha hanseníase quando foi transferida para o Recife. As pessoas se afastaram. Até mesmo a família lhe virou as costas. Teve que fazer novos amigos. Os encontrou durante o tratamento na unidade. Lá, também se casou e teve dois filhos, hoje com 24 e 26 anos. “Foi muito difícil no começo, convivi com muito preconceito”, disse. Hoje, a dona de casa mora no bairro da Mirueira, nos arredores do hospital que ontem completou 71 anos.

Referência no estado em tratamento de hanseníase desde 2007, a unidade teve festa de aniversário com música da Banda Musical do Corpo de Bombeiros, regida pelo maestro Elias, além da performance do médico Marcelo Viana, cover de Tim Maia, e de uma homenagem aos funcionários. 

O hospital foi inaugurado para tratamento de pessoas com alcoolismo. Ao longo dos anos, foi recebendo pacientes com hanseníase. Atualmente, cerca de 30 famílias moram no local. Lá tem campo de futebol, teatro, cinema e barbearia, tudo bancado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Os pacientes que moram aqui vieram logo no início da unidade e geralmente perderam todo o contato com o mundo lá fora. Aqui funciona como uma cidade para eles”, disse a supervisora médica do HM, Miriam Coutinho. “Normalmente, cada paciente passa, em média, 15 dias internado aqui”, completou a diretora-geral da unidade, Keila Figueiredo.

Segundo o clínico geral José Carlos Rosa, é comum que os pacientes sejam segregados da sociedade. E o motivo é a falta de informação. “Antigamente não se sabia a causa da doença e nem como era feito o contágio. Além disso, deixa sequelas para o resto da vida. Então os doentes eram tratados com isolamento”. A hanseníase, chamada antigamente de lepra, é causada por uma bactéria e transmitida através das vias aéreas. A doença tem cura e quanto mais cedo for descoberta, mais rápido o tratamento e maiores as chances de não haver sequelas.

SAIBA MAIS

4.500 
atendimentos são feitos por mês no ambulatório do hospital

180
pessoas são internadas por mês

30
famílias moram no local

360
é o número de funcionários

Hanseníase

Contágio

Através das vias aéreas superiores. Espirros e saliva são os principais transmissores

Sintomas

Manchas na pele. As manchas podem ser de qualquer tamanho, cor ou forma. A diferença é que elas causam doenças

Como pode ser descoberta

Através dos exames baciloscopia e biópsia histopatológica

Tratamento

Poliquiomoterapia, fisioterapia, acupuntura etc. Pode ser feito em casa, ou gratuitamente pelo SUS 

Sequelas

Mão de gancho, olhos saltados, pés caídos

Fonte: José Carlos Rosa, clínico geral/Diario de Pernmabuco

 

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