RIO – Acidentes causados por mordeduras de escorpião em moradores de Independência, município do Sertão cearense, levaram especialistas da Universidade Estadual do Ceará (Uece) a criar uma força-tarefa para investigar se a toxina encontrada no veneno do animal peçonhento pode ser útil para tratar as dores intensas nas articulações deixadas pela chicungunha. A doença é o ponto em comum entre pessoas da cidade que foram picadas e, logo depois, apresentaram melhora das dores insuportáveis que se arrastavam há meses devido à infecção pelo virus. Os casos foram relatados durante o 20º Congresso Brasileiro de Infectologia, que termina hoje no Rio de Janeiro.
“Após picadas por escorpião, essas pessoas referiram melhora do sintoma de dor crônica articular causada pela chicungunha. Duas mulheres foram atingidas (pelo animal) durante atividades domésticas. O companheiro de uma delas chegou a buscar um escorpião para picá-lo para livrar-se da dor. Ficamos surpresos e preocupados. É um acidente que pode ter desfecho grave e fatal. Então, não aconselhamos a busca aleatória. Ao mesmo tempo, estamos interessados na investigação”, informou o médico Érico Arruda, presidente da Sociedade Cearense de Infectologia e professor da Uece.
Onze profissionais (infectologistas, epidemiologistas, farmacêuticos e enfermeiros) pesquisam o efeito do veneno do escorpião em pacientes com dores crônicas da chicungunha. “Sabemos que peçonhas (secreção ou substância venenosa de alguns animais) podem ter aplicabilidade do ponto de vista medicamentoso ou biomédico. A principal hipótese é que (a toxina do veneno de um escorpião) possa ter alguma ação inflamatória capaz de diminuir a dor articular. Esse é o pressuposto mais fácil de ser levantado, mas é claro que há outras análises e estamos abertos a questionamentos”, explica.
A rede de pesquisadores cearenses, chamada de Chikungunya versus Tityus stigmurus (conhecido popularmente como escorpião do Nordeste), faz um levantamento da literatura médica sobre o assunto. “Vamos ver, no Brasil, quem já realiza estudo sobre essa toxina e, em seguida, pensaremos num modelo experimental para investigar, in vitro (em laboratório), a atividade anti-inflamatória nas células. Depois, estudaremos em animais de experimentação. O passo seguinte seria analisar a tolerância em pessoas sadias e a efetividade da (toxina) nos doentes. Isso demanda tempo e investimento alto”, frisa Érico. “Estamos buscando alternativas para aliviar o sofrimento das pessoas com chicungunha crônica.”
Fonte: Jornal do Commercio



