Tratamento da fibrilação atrial, com anticoagulantes, pode fazer a diferença entre a vida com uma doença crônica sob controle e uma situação de dependência causada por um AVC
O número é impactante: no Brasil, ocorrem cerca de 300 mil mortes súbitas por ano. Na maioria dos casos, são pessoas em idade produtiva que desconheciam ter um problema – no entanto, 80% delas sofriam de aterosclerose. O quadro, dramático, é apresentado pelo cardiologista paranaense José Carlos Moura Jorge, que assumiu a presidência da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas. Doutorado pela Universidade de São Paulo e professor-titular da PUC-PR, o doutor Moura Jorge é também fellow do American College of Cardiology, da European Heart Rhythm Association e da Heart Rhythm Society. De acordo com estimativas, as arritmias atingem 25 milhões de brasileiros e seu trabalho à frente da entidade vai focar em duas frentes: as mortes súbitas, que ele qualifica como “um grave problema de saúde pública”, e a fibrilação atrial, o tipo mais comum de arritmia entre idosos: 10% das pessoas acima dos 70 apresentam o quadro.
A arritmia ocorre quando o ritmo cardíaco se desvia do normal, podendo ser acelerado (taquicardia) ou lento (bradicardia) demais, ensina o médico: “taquicardia e bradicardia podem fazer cair a pressão arterial – para 7 por 5, 6 por 4 – e, como o indivíduo não recebe sangue suficiente no cérebro, acaba desmaiando. No entanto, ele pode ter uma das duas condições, e somente a avaliação diagnóstica vai esclarecer. Taquicardias ainda podem ser causadas por ansiedade ou síndrome do pânico, mas é importante afastar a possibilidade de causas patológicas mais graves”.
Os sintomas das arritmias variam de pessoa para pessoa, mas o mais frequente é a palpitação. Também podem provocar tonteiras, falta de ar, mal-estar, sensação de peso no peito, fraqueza, dentre outros. É fundamental buscar uma avaliação médica, explica o doutor Moura Jorge: “a arritmia faz o coração bater de forma descompassada e irregular e isso aumenta o risco de AVC, conhecido popularmente como derrame. Quando há fibrilação atrial, o sangue fica represado no átrio, na parte superior do coração, que leva o sangue aos ventrículos. Se ele fibrila, não consegue realizar a função de bombear esse sangue, que fica como que ‘empoçado’. As hemácias vão se juntando, formando coágulos que são bombeados pelo ventrículo e podem chegar ao cérebro”.
Ele acrescenta que há dois tipos de taquicardia, a benigna e a maligna. “Na benigna não há risco de morte; na maligna, quem já teve infarto do miocárdio traz cicatrizes no coração que podem gerar essa condição, especialmente na área da lesão”, diz. No tratamento da taquicardia usa-se o cardiodesfibrilador implantável (CDI) ou desfibrilador. Para a bradicardia, o marca-passo. “Quanto à fibrilação atrial, o tratamento é com anticoagulantes, que podem fazer a diferença entre a vida com uma doença crônica sob controle e uma situação de dependência causada por um AVC”, enfatiza o médico. A prevenção é papel de cada um: dieta saudável, exercícios regulares, uso moderado de álcool e não ao cigarro para evitar a aterosclerose, que causa a obstrução das veias e artérias.
Fonte: G1